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9 de dezembro de 2011

A "Amada, Amante" de Roberto Carlos

Amada, amante foi lançada em 1971, mas composta durante os anos em que Roberto Carlos vivia um imbróglio para conseguir oficializar seu casamento. Num tempo marcado por guerras, guerrilhas e violência urbana, Roberto Carlos não se conformava com o fato de não poder oficializar o amor que sentia por sua
mulher. E a letra de Amada amante fala exatamente disso:

"Esse amor sem preconceito/ sem saber o que é direito/ faz as suas próprias leis", diz Roberto Carlos, exaltando a subversão das leis que regem o matrimônio.


A canção incomodou e, num primeiro momento, foi proibida pela censura. "Esse é um troço que deixa a gente triste, sem entender. A gente imagina uma coisa, trabalha em cima, sua para concluir a música aí vêm os caras e metem a tesoura, censuram, proíbem, desrespeitam o seu trabalho. Não deveria existir censura nenhuma", protestou na época Erasmo Carlos.


Em Amada amante, ele e Roberto foram mais ousados na abordagem do tema amoroso e pela primeira vez em sua obra usaram a palavra "amor" no sentido de sexo, no verso: "Que manteve acesa a chama/ que não se apagou na cama/ depois que o amor se fez". E foi exata-mente essa referência mais direta à relação sexual o que provocou a interdição da música.

O departamento jurídico da CBS entrou com recurso no órgão de Censura Federal em Brasília e este condicionou a liberação de Amada amante à modificação do trecho que trazia a palavra "cama". Roberto e Erasmo criaram então um novo verso: "que manteve acesa a chama/ da verdade de quem ama/ antes e depois do amor" - que ficou até melhor do que o original. Um outro verso - "e você amada amante/ faz da vida um instante/ ser demais para nós dois" - era uma referência ao fato de Roberto Carlos permanecer pouco tempo em casa para curtir seu amor, mas cabe também como uma luva para o homem casado que não pode ficar todo o tempo com a amante.


No início dos anos 40, a censura do governo de Getúlio Vargas proibiu o uso da palavra "amante" na música popular. Qualquer samba ou marcha carnavalesca que usasse essa expressão era vetada. Na época, a imprensa era advertida até mesmo quando fazia referência a um "amante da arte".

Por força do hábito, mesmo depois do fim da ditadura Vargas os compositores continuaram evitando essa palavra. Vinícius de Moraes esteve perto de usá-la em Minha namorada, parceria com Carlos Lyra. "E
se mais do que minha namorada/ você quer ser minha amada/ mas amada pra valer/ aquela amada pelo amor pre- destinada...". Ou seja, amada, mas não amante. Assim, essa palavra continuou de fora de nossa
música popular até o lançamento da canção de Roberto Carlos.

E, como se estivesse mesmo presa na garganta do povo brasileiro, ela ganhou as ruas no rastro do sucesso de Amada amante, em plena ditadura do governo Medici. O próprio Roberto Carlos ficou surpreso com a grande repercussão de sua música, tanto no Brasil como em toda a América Latina.


Amada, Amante
(Roberto Carlos / Erasmo Carlos)

Esse amor demais antigo
amor demais amigo
que de tanto amor viveu
que manteve acesa a chama
da verdade de quem ama
antes e depois do amor
e você amada amante
faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez
neste mundo desamante
só você amada amante
faz o mundo de nós dois
amada amante

Clique em 'Play' para ouvir "Amada, Amante"

17 de setembro de 2011

A viagem musical de Erasmo Carlos


Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1987

Ao contrário de seu fiel amigo e parceiro Roberto Carlos, Erasmo Carlos (Erasmo Esteves, RJ, 5/6/1941) - o "Tremendão" da Jovem Guarda dificilmente conhecerá a glória de vender um milhão de cópias. Seu público é reduzido, embora ele se mantenha no mercado, satisfatoriamente, há tanto tempo quanto o "Rei".

Enquanto o novo disco de Roberto Carlos (CBS, dezembro/86), já passou das 1.500.000 cópias vendidas, o elepê anual de Erasmo Carlos ("Abra Seus Olhos", Polydor/Polygram, novembro/86) ainda engatinha em vendas - mas teve boa acolhida.

Justiça seja feita: ao contrário de Roberto, Erasmo inova em seus discos. Sem fugir do romantismo, de uma linha muitas vezes irônica, busca sempre novos espaços - a começar pela própria capa de cada disco (ao contrário de Roberto, cujos discos se confundem pela mesmice interna e externa).

Na verdade, a produção deste "Abra Seus Olhos", 24º lp de Erasmo Carlos, envolveu dois extremos. De um lado, a experiência nova de Erasmo ir compondo as músicas enquanto entrava em estúdio; de outro, a retomada de ritmos há muito abandonados. Resultado: Erasmo define este disco como "uma verdadeira viagem rítmica com samba, funk e outros ritmos que não visitava há algum tempo". São 12 faixas - sete em dupla com Roberto Carlos - e cinco de amigos como Paulinho Soledade, Luis Sérgio Carlini, Ed Wilson, Ronaldo Bastos, João Augusto, Nico Rezende e Ronaldo Santos.

Há um clima de descontração no disco - ao contrário do trágico "Buraco Negro", feito há 2 anos, quando Erasmo vivia um drama conjugal, a tentativa de suicídio de sua ex-esposa, Narinha, e até acusações de seu envolvimento amoroso com o travesti Roberta Close (a quem dedicou uma música).

Erasmo é bom no humor, sabendo aproveitar temas simples - como faz em "O Resto é Blá, Blá, Blá" - parceria com Roberto - ou "Rádio Patroa", um rock de Luiz Carlini. O grupo Roupa Nova valoriza "Na Próxima Atração", balada de Ed Wilson/Ronaldo Bastos. "Tantas Noites", música que seria para comemorar seus 15 anos de casamento (2 de julho) com Narinha. Junto com Roberto fez um "radical bolero" que se chamava originalmente "Dois de Julho". Mas como seria muita bandeira, mudou o nome e o arranjo de Jorjão Barreto transportou-o para o soul romântico.

Leila Pinheiro, a afinada cantora paraense, tem uma participação especial no "Samba Rock", uma música de Billy Moore, Simpson e Johnny Brandford que, em 1975, fez sucesso nas vozes de "Os Cariocas". Inspirado nos Cariocas, Erasmo fez a sua versão, promovendo na harmonia o casamento da guitarra com o violão. A guitarra, no caso, é de Marcelo Sussekind e o violão é de Roberto Menescal. Além de Menescal e Sussekind, e Leila Pinheiro, um outro convidado especial: o trombonista Raulzinho.

Dentro das participações especiais, mais uma presença: Eduardo Dusek, fazendo vocalises em "Análise Descontraída", música que Erasmo e Roberto fizeram em 1975. Só que para esta regravação, Erasmo fez mais uma estrofe e a transformou de rock original num tremendo funk. E a letra ganhou, assim, um apelo-denúncia-ecológico e político ao final:

"Morro sem entender porque Chernobyl
Não serve de exemplo às "Angras" do Brasil
E porque que debaixo do mesmo céu azul
Não convivem em paz
Brancos e negros na África do Sul"

10 de junho de 2010

Roberto Carlos - Fé

A religiosidade acompanha o Rei desde a infância mas se intensificou na época de Maria Rita.

O pai, seu Robertino, era espírita, e a mãe, dona Laura, católica. A primeira escola, Jesus Cristo Rei, de Cachoeiro de Itapemirim, era de freiras. Por opção dos pais, o próprio Roberto Carlos pôde escolher e, aos 23 anos, já ídolo da Jovem Guarda, decidiu ser batizado na Igreja Católica, tendo como padrinho o bancário Renato Spindola e Castro, o homem que o socorreu no acidente de trem que lhe custou a amputação da perna.

Na ocasião do nascimento de seu filho Segundinho, assim que foi diagnosticado o grave problema de vista do garoto, Roberto chegou a procurar os espíritas Chico Xavier e José Arigó em busca de soluções. Houve até a possibilidade de tratamento segundo a doutrina, mas o Rei preferiu, seguindo a orientação do próprio Arigó, levar o menino para um médico especialista na Holanda. Essa fase de fé ficou marcada pela música Jesus Cristo, gravada no disco de 1970.

Nessa mesma época, em uma entrevista para o jornal O Pasquim, Roberto se assumiu como católico não praticante. Mas as músicas de teor religioso passaram a fazer parte de seu repertório, como Todos Estão Surdos e A Montanha. Sem fanatismo, ele chegou a regravar Quero Que Vá Tudo pro Inferno no disco de 1975, canção que viria a evitar depois por causa da menção ao inferno.

Roberto Carlos e o Papa

No fim da década de 70, a identificação de Roberto Carlos com o catolicismo se intensificou depois que o papa João Paulo II foi recepcionado no México por um coral de crianças cantando a música Amigo. Nos anos 80, pelo menos dois fatos marcaram a postura religiosa do Rei. O primeiro foi a recusa de gravar Se Eu Quiser Falar com Deus, que Gilberto Gil compôs especialmente para ele, alegando que a letra não correspondia com sua idéia de Deus. O segundo foi o apoio que deu à censura do governo militar ao filme Je Vous Salue, Marie, de 1985, que o indispôs com artistas mais progressivos como Caetano Veloso.

Mas foi ao iniciar seu relacionamento com Maria Rita que Roberto passou a se dedicar mais abertamente ao catolicismo. Essa fase se reflete em músicas como Nossa Senhora, Jesus Salvador e O Terço e, principalmente, no disco Mensagem, de 1999, no qual só gravou canções de fundo religioso. Com a mulher, o Rei começou a frequentar grupos de reza, casou-se na igreja e até cantou para o papa João Paulo II na visita que fez ao Brasil em 1997. Mas a viuvez, acompanhada publicamente pelo seu semblante de tristeza e dor, o fez questionar sua fé. Não, ele não a perdeu, mas entendeu que nem sempre ela move montanhas.

:: Logo que começou a fazer sucesso, Roberto recebeu da irmã Fausta, sua professora no Colégio Jesus Cristo Rei, o medalhão com a imagem do Sagrado Coração de Jesus, que marcou o seu visual.

:: O cineasta Paulo César Saraceni pensou em Roberto para protagonizar o filme Anchieta, José do Brasil, de 1977, por causa da identificação do cantor com a religião, mas o Rei não aceitou o convite.

:: Por causa do problema de Segundinho com a visão, Roberto Carlos tornou-se devoto de Santa Luzia, a protetora dos olhos, e todos os anos, no dia dela, vai à missa na Igreja de Santa Luzia, no Rio.

:: Outro ritual anual é reunir a família na Igreja Nossa Senhora do Brasil, na Urca, Rio, para uma missa em homenagem a Maria Rita.

:: Na visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1997, o cantor pediu e o pontífice abençoou dois terços para ele.

:: No enterro de Maria Rita, em 1999, Roberto pediu que o caixão fosse reaberto para ele colocar nas mãos dela um terço que ganhou do padre Marcelo.

:: O Rei tem uma capela em seu estúdio, onde frequentemente se isola para rezar.

:: Em sua obra, os termos religiosos ''Deus'', ''Jesus'' e ''luz'' são os que mais aparecem.

Revista Contigo!

14 de maio de 2010

RC, romântico, espiritual e falando também de motel

Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de dezembro de 1981

Poucas vezes se viu algo igual. Para provar de que grandes crises exigem soluções corajosas, o presidente da CBS, disposto a fazer o maior ídolo da empresa, Roberto Carlos, igualar as vendagens do espanhol Júlio Iglesias - hoje um superstar que vende mais de 30 milhões de cópias de cada um de seus discos, determinou que o novo disco de Roberto Carlos tivesse uma promoção extra, com aplicação de mais de Cr$ 10 milhões.

Assim, enquanto outras multinacionais desativam suas áreas de promoção - como a Polygram, está fazendo ao menos no Paraná, para irritação de seus contratados (os últimos LPs de Angela Ro-Ro, Gal Costa e Boca Livre não tiveram até agora qualquer promoção na área de imprensa), a CBS, honesta e organizadamente soube fazer do disco de Roberto Carlos o grande evento deste final d ano e há duas semanas o LP foi para as lojas já com quase 2 milhões de cópias vendidas.

RC deve ser apreciado, sobretudo, como um fenômeno de marketing. Mais do que em termos musicais - estético - artístico, sua presença no ranking da MPB nos últimos 15 anos tem que ser apreciado do ponto de vista de um produto de consumo que, astutamente, tem se adaptado às transformações de seu público. Do cantor jovem-guarda, com canções ingênuas, evoluiu para o intérprete romântico, com as pitadas espiritualistas e eróticas que o mantém num primeiro e único lugar. Assim, caberá, no futuro, os sociólogos, técnicos em marketing, promoção e comercialização [estudarem] este ídolo, que consegue repetir sempre um esquema de fácil consumo e obter, em cada lançamento aceitação extraordinária.

Nesta edição-81, a produção seguiu os mesmos esquemas dos anos anteriores: gravações feitas nos estúdios do [CBS] em Nova Iorque, e no Evergreen, em Los Angeles, com apenas uma mixagem nos estúdios da Sigla, no Rio de Janeiro (ritmo da faixa "Olhando Estrelas", de Eduardo Lages/Paulo Sérgio Valle). Pela primeira vez, as letras das músicas foram incluídas, mas a ficha técnica esquece os músicos que participaram das gravações.

O esquema do repertório também tem todos os macetes para justificar a programação intensa - só no primeiro dia, quarta-feira, 18 de novembro, acredita-se que as músicas foram executadas mais de 3 mil vezes nas emissoras de todo o País, já que a distribuição do disco foi feita de forma paralela a que o mesmo chegasse às emissoras e aos jornalistas praticamente no mesmo dia.

O espiritualismo que no passado já rendeu bons dividendos em "A Montanha", é repetido em "Ele Está Pra Chegar"; a ecologia - preocupação da moda, marca "As Baleias" e o erotismo que no passado fez "Café da Manhã" (ex-"O Motel") escalar as paradas de todos os motéis e FMs do País, tem um novo "clássico" em "Cama e Mesa" - todas, naturalmente composições de Roberto e Erasmo Carlos, que assinam ainda "Tudo Para", "Eu Preciso de Você" e "Emoções". Ter uma música gravada por Roberto Carlos significa [tranqüilidade] financeira, pois os direitos autorais representam milhões de cruzeiros a cada trimestre.

Antigamente, Roberto ficava apenas em suas composições, mas agora ele tem lentamente mas seguramente, dado chance a outros autores. De Maurício Duboc/Carlos Colla, dupla que compõe o seu estilo, gravou o melodioso "Doce Loucura" ("A boca ainda úmida de um beijo/Tocou maliciosamente no meu rosto/E murmurou palavras de desejo/Queimando a minha pele como fogo"). De Mauro Motta/Eduardo Ribeiro, a igualmente aveludada "Quando o Sol Nascer" ("Você pensa que é verdade/É o que vai na sua mente/E se esquece que no amor/Tudo é muito diferente").

De Lages/Paulo Sérgio Valle tem a billaceana "Olhando Estrelas" ("Na madrugada olhando estrelas/Parece que eu ainda estou sonhando/E nessa hora esqueço o tempo/E tanto o sentimento me faz renascer").

Mas, numa primeira audição, a faixa mais interessante - com um arranjo de Zorrie Tito (que divide com Jimmy Wisner, All Caps, Tom Saviano, Olivetti e Eduardo Lages esta parte do disco) ao estilo de fox é a "Simples Mágica", de Regininha, um momento liberto e de enternecimento, neste LP feito para o consumo e que prova ao menos uma coisa: o disco vende, apesar da crise e dos supérfluos. É só saber fazer o bom marketing - no que RC é o melhor produto para os executivos da CBS.

2 de maio de 2010

Roberto Carlos, o produto comercial


Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de dezembro de 1985

A cada ano repete-se a operação Roberto Carlos. Vendas antecipas (este ano chegando a 1.300.000 cópias), espaços nobres na imprensa nacional e as discussões de sempres em torno da mesmice, da repetição cíclica que faz, há 20 anos , o "Rei"se manter como campeão absoluto em vendagens e popularidade. Inútil negar: RC mantém a fórmula segura de alcançar um público que, ao longo destas duas décadas, só tem crescido. As sua músicas falam de amor, dor-de-cotovelo com toques ora ufanistas (este ano a "Verde e Amarelo", com olhos fixados na próxima Copa do Mundo), como no passado foi para o lado espiritualista e na abertura sensual - presente aqui em "Simbolo Sexual".

Há três semanas, o "Jornal do Brasil" abriu página dupla para discutir o fenômeno R.C. Quatro pessoas - os críticos Tárik de souza e Jamari França e os compositores Herilvelyo Martins e Caetano Velloso (representando, portanto, faixas diferentes de pensamento e idade) dissecaram R.C., sua obra e, especialmente seus discos. Jamari, crítico de rock, foi o mais radical em suas críticas: "Ele é pessoa que contribui para o atraso cultural do povo brasileiro, reciclando sempre as mesmas coisas sentimentalóides. Não vejo nada de novidade nele, sobretudo musicalmente. Ele faz questão de manter sempre aqueles arranjos de violinos, aquela coisa o disco inteiro, sempre repisando os mesmos temas, a religiosidade, o sentimento, o patriotismo".

Herivelto, compositor de tantos clássicos lamentou que RC tenha feito muito pouco pela MPB. Justificou seu pensamento:

-"Com o poder que ele tem de comunicação, poderia fazer alguma coisa pela nossa verdadeira música . O que ele canta não é brasileiro, embora agrade ao público. Mas de vez em quando ele poderia dar uma colherzinha de chá a música brasileira".

Enbora concordando que a música de Roberto Carlos não é brasileira, - mais um produto híbrido, comercial, para consumo, Tarik de Souza fez uma colocação-pergunta significativa: "Como se explica que um camarada que não canta de fato músicabrasileira seja maior sucesso do Brasil há duas décadas ?''

Realmente, R. C. é um fenômeno em termos de comunicação e produto comercial. Mais do que sinplesmente gostar ou desgostar de sua música, é preciso ve-lo como intérprete de um produto que - tal como um bom sabonete ou uma marca de cigarro- tem a preferência nacional. Para tanto, nem ele-nem a gravadora-arriscam-a mudar em nada a forma com que o é servido.

Até as fotos das capas dos discos anuais são parecidas ( buscando sempre a imagem jovem, apesar de já estar nos 43 anos). Gravados nos Estados Unidos [este ano, nada menos que 214 proficinais, entre cantores, músicos, vocalistas, arranjadores, elementos de produção etc. participaram], R C é o Volkswagen da CBS [e da indústria fonográfica], seguido Turma Balão Mágico em termos de vendas.

Entretanto, a produção de R. C. sabe montar a receita de agrado. Quem por exemplo, curtindo uma dor-de-cotovelo, não se amarra numa música como '' Vocé na Minha Mente" ( Mauro Motta Robson Jorge Olivetti Carlos Colla) ou " Da Boca pra Fora"'( Mauricio Duboc/ Carlos Cola)?

Um momento descontraído, de indireta citação a amante Miriam Rios está em "A Atriz " - uma das seis composições inéditas (todas parcerias com Erasmo Carlos) deste novo LP . Realmente, R. C. não faz nada em temos de presença política ou de valorização da música & músicos; é um bilionário isolado em sua fortuna e fama, Entretanto, é um ídolo popular, um produto extremamente bem vendido em seus discos, shows milionários e o tradicioanal " Especial'" de fim de ano na televisão.

E, com sua voz azeitada, arranjos ultra bem preparados, continuará a vender milhões de cópias de seus discos, Cantor de méritos ( o que Caetano Velloso, deslubrando, vive papaguear / poderia fazer ao lado de seu disco marqueting, um fuori série ( isto um disco um reportório menos comercial, mais inteligente) com tão bem sugeriu Tariq de Souza. Ai enão, se poderia ver o outro lado deste artista que hoge é mais um caso cmercial do que musical.

1 de janeiro de 2010

As 5 melhores músicas de Roberto Carlos

Em 50 anos de carreira, qual é a melhor música de Roberto Carlos? Foi essa a pergunta feita a artistas, jornalistas e compositores durante vários meses. O resultado aparece no quadro abaixo, com a eleição das cinco melhores do repertório do Rei.

O resultado coloca no topo do repertório de Roberto Carlos músicas lançadas na década de 1960, especialmente as da época da jovem guarda. É o caso da vencedora, "Quero que Vá Tudo pro Inferno", lançada em 1965. A música foi a preferida de Paulo Miklos, do Titãs, e do crítico musical Pedro Alexandre Sanches.

Cada um dos eleitores convidados escolheu cinco canções favoritas, na ordem preferida. Um total de 34 músicas foram votadas, todas do período entre as décadas de 1960 e 1980. Foram lembrados desde clássicos como "Detalhes" e "Emoções" até outras que não fizeram tanto sucesso, como "O Tempo Vai Apagar", "Todos Estão Surdos" e "Sua Estupidez".

Parte das comemorações pelos 50 anos de carreira vai continuar ainda em 2010, quando o Rei tem um show marcado para Nova York, no mês de abril, e deve colocar nas lojas mais um álbum e um DVD ao vivo.

1 de agosto de 2009

Em Detalhes - "O Disco da pena"

Amazônia - 1989

... Pode-se se dizer que este foi o primeiro álbum conceitual de Roberto Carlos, porque começa lamentando a destruição da floresta e vai até o fim com ele lamentando o fim de um amor. E o semblante do artista na foto de capa não deixa dúvida: estava mesmo muito triste.

Ali pela primeira vez Roberto Carlos se exibe com aquela pena de águia dependurada no cabelo -o que leva muitos a reconhecer esse álbum como "o disco da pena". Mas talvez fosse melhor defini-lo como "o disco da lamentação", pois em nenhum outro, gravado antes ou depois, Roberto Carlos revelou tanta dor-de-cotovelo.

Diferentemente de outros discos de Roberto Carlos, esse não traz canções eróticas como "O côncavo e o convexo"; nem de exaltação à amada como "Mulher pequena"; nem de homenagem a categorias profissionais como "O taxista"; nem mesmo de fervor religioso como "Luz divina". Aliás, o álbum de 1989 não traz qualquer citação, direta ou indireta, a divindades como Jesus ou Nossa Senhora. Fato raro na discografia de Roberto Carlos, aquele foi um álbum sem Deus...

As sessões de gravação desse disco foram também bastante complicadas, difíceis. Nada parecia satisfazer Roberto Carlos, que gravava, regravava e gravava novamente cada faixa até a exaustão. Foi um trabalho estressante para todos os músicos envolvidos. Exasperado, em determinado momento, o produtor Mauro Motta chegou a abandonar o estúdio.

E tudo isso acabou se refletindo no resultado do disco, que ficou tão pesado, carregado, arrastado, que nem mesmo o público o digeriu direito. De todos os álbuns lançados por Roberto Carlos nos anos 80, aquele foi o que menos vendeu, foi o que menos tocou. Nenhuma de suas canções foi um grande sucesso e nenhuma ficou no imaginário popular.

Entretanto, no meio de tanta escuridão, o álbum de 1989 acabou revelando um ponto de luz na sua penúltima faixa. Talvez para se consolar de tanta melancolia e solidão, ali Roberto Carlos colocou uma versão em espanhol de Smile, clássico de Charles Chaplin que, como um anjo anunciador, afirma: "No, ya no pien-ses em llorar/ de que vale lamentar/ lo pasado pasó/ si ese amor termino/ otro amor puede Llegar...".

Pois para Roberto Carlos logo chegaria mesmo outro amor, mas não um amor qualquer; não um amor passageiro; e sim aquele amor que o artista definiu como o mais bonito que jamais existiu. "às vezes digo que, se comparassem o amor que eu e Maria Rita temos ao de Romeu e Julieta, veriam que o deles foi apenas um flerte", garante Roberto Carlos...

2 de março de 2009

As canções que eu mais gosto

Uma Postagem que é um presente especial para você!!. Visitante do Blog Roberto Carlos Internacional. Aqui o próprio Roberto Carlos Comenta 15 de suas músicas principais músicas, de Parei na Contramão que projetou Roberto Carlos Nacionalmente até Detalhes, grande sucesso do Rei.!"

Parei na Contramão:

"Tenho um carinho especial por essa música. É uma canção água com açúcar, letra simples, nada de especial. Mas para mim representa muita coisa: foi o meu primeiro sucesso nacional. A partir dai passei a ser conhecido em todo o Brasil. Compus quando ainda trabalhava numa repartição pública. no Rio. É para mim a moedinha número 1"


Não quero ver você triste:

"Essa música tem uma história engraçada: eu estava com o Erasmo no Rio quando de repente ele começou a assobiar uma melodia. Achei bacana e ali mesmo comecei a fazer a letra. Ficou pronta em dez minutos. Também está entre as minhas preferidas. Fala de uma mor muito doce e triste."


Como é grande o meu amor por você:

"Quando eu estava namorando a Nice, numa época em que poucas pessoas sabiam disso, procurei fazer uma música dedicada a ela, falando do meu amor, não foi fácil. Precisava de uma frase forte para dizer tudo o que eu sentia. Afina encontrei e deu sorte. A canção me ajudou a conquistar Nicinha definitivamente. Por isso recordo do bons momentos quando ouço este disco."

Jesus Cristo:

"Eu estava na cidade de Cascavel, interior de Santa Catarina. Tinha acabado de fazer um show no clube local e apesar de cansado, sentia dentro de mim uma coisa esquisita. parecia angústia. Sei lá. Um negócio meio espiritual, e comecei a escrever os primeiro versos. De volta a São Paulo telefonei para o Erasmo, expliquei tudo direitinho e no mesmo dia terminamos a música."


Ana:


"A música é do Erasmo, a letra é minha. Mais uma canção que fala de alguém que se foi, um amor perdido, feito de saudade, de recordações. Ana Paula, minha filha não tem nada com a história, mas o título foi uma homenagem a ela. A idéia começou quando estava voando de São Paulo para o Rio. Na volta a letra estava pronta. É uma das minhas favorita”


E por isso estou aqui:

"Essa é outra das músicas antigas que gravei e gosto muito. Tem um ar meio clássico - partia para um novo caminho - e é bem estruturada musicalmente. Fiz depois de um programa Jovem Guarda. Estava triste com alguma coisa, mas não conseguia descobrir o que era. Aproveitei meu estado de espírito para compor. Talvez seja esta razão de gostar tanto dela."

Meu pequeno Cachoeiro:

"Esta música não foi feita especialmente para mim, como muita gente pensa. É do Raul Sampaio, também de Cachoeiro de Itapemirim. Gostaria muito de ter composto a canção, é o que realmente eu sinto pela cidade onde nasci. Com essa letra ele traduziu tudo o que poderia ser dito sobre o assunto. É uma música belíssima."


Traumas:

"Sempre que viajo, penso na minha infância em Cachoeiro de Itapemirim. Quando fiz esta música estava em Nova York, num hotel. Ela surgiu de uma revolta dentro de mim. É baseada nos problemas que ficam escondidos dentro da gente. Saiu como uma explosão onde não conseguia segurar mais as coisas que se passavam comigo no momento. No fim da letra, eu já compreendia melhor os problemas gosto demais de Traumas."


As curvas da estrada de Santos:

"Uma noite eu estava descendo a serra da estrada de Santos para fazer um show no Guarujá. De repente, uma idéia antiga começou a crescer em mim. Eu sempre imaginava um cara dentro de um carro, sozinho, procurando desabafar toda a dor de um amor perdido. É a história de um rapaz que não tinha mais ninguém e só a velocidade poderia ajudá-lo a encontrar um novo amor. Quando voltei do show, não fui dormir antes de terminar a música."

Sua estupidez:

Esta é um grito de alerta às pessoas que amam, mas vivem infelizes porque dão muito valor a detalhes insignificantes. Fiz a letra de manhã, depois de uma noite chuvosa. Acordei um pouco cansado de tudo, das coisas inúteis que passam a ser importantes para que não entende nada do valor dos sentimentos. É horrível conviver com gente "emburrecida" por qualquer coisinha.


120, 150, 200 Quilômetros por hora:

"Eu sempre fui chegado a um tremendo carango. Dentro dele sinto-me outro. Essa letra reflete algumas coisas que acontecem comigo e com qualquer outra pessoa dirigindo. Carro é o meu tema favorito, e esta música, em particular, mexe muito comigo. A idéia nasceu quando eu estava dirigindo o meu Jaguar."


De tanto amor:

"É uma história de amor e foi composta especialmente para Claudete Soares que deu uma excelente interpretação. São coisas da vida, românticas, canção feita com simplicidade. Uma frase eu gosto demais - me perdi de tanto amor. Isso pode acontecer a muita gente. A música surgiu na volta de uma viagem à Europa."

Amada Amante:

"Esta é especial para Nicinha. A letra nasceu numa noite quando eu estava deitado, tranquilamente, na cama. É também uma homenagem à esposa amante que sabe entender e amar um homem . Com essa canção acho que consegui mostrar exatamente tudo o que sinto pela minha mulher . Nice é uma companheira sensacional. A música é do Erasmo."


As flores do jardim da nossa casa:

"Esta eu fiz num hotel de Amsterdã, na Holanda. Segundinho estava no hospital submetendo-se a uma intervenção cirúrgica na vista. Eu, muito abatido e torcendo para que tudo desse certo com meu filho, comecei a escrever a letra. Hoje segundinho é um menino saudável e a música ficou como uma das grandes recordações de minha vida."


Detalhes:

"É uma das letras de que mais gosto. Procura mostrar os encontros e desencontros de um jovem nos seus problemas afetivos. No fundo é uma tremenda fossa. Sou terrivelmente amarrado nessa canção. Sempre achava que precisava compor algo assim. Agora estou satisfeito. Detalhes foi feita numa tarde de chuva. Eu estava sentado na minha cadeira favorita e o Erasmo no chão. Quando terminamos fui correndo mostrar para a Nice. Ela adorou."

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Fonte: "As canções que eu mais gosto" (Roberto Carlos) - HenryRoss

29 de outubro de 2008

A Clássica 'Sentado À Beira Do Caminho'

Um dia Roberto Carlos começou a compor uma balada romântica que, com sua intuição e faro para o gosto popular, tinha certeza de que seria um grande sucesso. Roberto podia muito bem colocar aquela música no seu álbum. Entretanto, Roberto Carlos tinha outro destino para aquela composição: ela seria oferecida para Erasmo Carlos gravar. "Mas esta é uma balada romântica e a praia do Erasmo é mais o rock", contestou seu produtor na época Evandro Ribeiro (que aliais é autor de alguma músicas que Roberto canta, mas com o nome de Eduardo Ribeiro).

Pois seria pelo romantismo que Erasmo Carlos se reergueria após a decadência pós Jovem Guarda. Quando Erasmo ouviu os primeiros acordes, também não teve dúvida: queria aquele tema para ele. E eles se reuniram para trabalhar nessa nova composição, intitulada Sentado à beira do caminho.

A canção levou quase cinco meses para ser composta, porque eles conseguiam criar um refrão para essa música. Eles fizeram a primeira, a segunda, a terceira e quarta estrofes - e cada uma melhor do que a outra -, mas empacaram no refrão. Numa noite, no início de 1969, os dois se reuniram mais uma vez para trabalhar no estúdio da casa de Roberto , no Morumbi, em São Paulo. O cantor estava muito cansado e lá pelas três e meia da madrugada, como de costume, deitou-se no sofá para dar uma cochilada.

Erasmo continuou trabalhando, mas sem conseguir encontrar o fechamento para a música. Entretanto, depois de uns vinte minutos dormindo, Roberto acordou elétrico e pulou do sofá exclamando. "Já sei, já sei!" E, enquanto ainda esfregava os olhos, cantou bem compassadamente: "Preciso acabar logo com isto/ preciso lembrar que eu existo".

Imediatamente, Erasmo Carlos pegou lápis e papel e anotou a frase. Agora sim, depois de meses, Sentado à beira do caminho estava finalmente concluída. "Eu acho que ele sonhou com o refrão, só pode ser isso. E se demorasse mais um pouco para anotar ele ia esquecer, porque ao acordar ainda estava recente o elo entre sonho e realidade", afirma Erasmo.

Roberto Carlos estava tão envolvido com a nova composição que pediu para produzir aquela faixa no disco do amigo. Para tocar a guitarra base na gravação, Erasmo Carlos chamou Aristeu Alves dos Reis, integrante de sua banda Os Tremendões. Para a gravação de Sentado à beira do caminho, para a qual Aristeu criou uma bela harmonia. Até então, Roberto e Erasmo usavam apenas acordes perfeitos em suas composições.

E assim fizeram em Sentado à beira do caminho, com uma harmonia bem simples montada em sol maior, lá menor, ré maior e sol. Aristeu sugeriu então uma variação harmônica com acordes de sétima maior e sexta, que ele tocou na guitarra base. A partir daí, aquela seqüência harmônica acabou se tornando um maná para Roberto e Erasmo, que a usaram em várias outras composições, a mais famosa delas sendo Detalhes.

Ao ouvir a nova gravação ainda no estúdio, a divulgadora Edy Silva exclamou: "Nossa, Erasmo, que coisa linda, parece Chico Buarque". Naquela noite, Erasmo Carlos saiu do estúdio realmente muito contente com a canção, com sua interpretação e com o arranjo.

Com essa gravação, descortinou-se uma nova fase para o artista Erasmo Carlos. "A música foi um soco no estômago do mundo porque, na minha carreira, eu nunca havia feito algo tão avassalador", diz Erasmo. "Voltei a ganhar tapinhas nas costas e a ser recebido novamente com cafezinho na gravadora."


E mais do que isso: Erasmo passou a receber convites e novas propostas de trabalho. O mais importante veio no final daquele ano, quando André Midani, o manda-chuva da Polygram, o convidou para se integrar ao elencoda gravadora, garantindo-lhe plena liberdade de criação. "Você vai gravar o que quiser, com quem quiser, da forma que quiser. Faça o que você quiser, mas faça.

É importante qualquer coisa que você crie", disse o executivo. Ou seja, a Erasmo era prometido o mesmo tratamento que a gravadora dispensava a figurões de seu cast como Elis Regina, Chico Buarque e Caetano Veloso.

Sentado À Beira Do Caminho ainda ganhou mais destaque, quando em 2004 (eu acho, a memória as vezes falha) em sua versão em italiano (L'Appuntamento), ganhou os cinemas do mundo, sendo música tema do filme Doze Homens E Outro Segredo, na voz de Ornela Vanoni. L'Appuntamento é com certeza, um dos maiores sucessos da carreira de Ornela Vanoni.

19 de outubro de 2008

Tudo que eu gosto 'É ilegal, imoral ou engorda'

No item protesto, uma de suas composições mais contundentes é Ilegal, imoral ou engorda, faixa de abertura do álbum de 1976.

A idéia do tema surgiu quando Roberto Carlos foi participar de uma reunião de negócios num escritório em São Paulo e, ao entrar na sala de um executivo, viu sobre sua mesa um adesivo com a frase: "Tudo o que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda". Na época, esse adesivo estava começando a circular por muitos lugares, era mais uma das formas sutis de protesto e denúncia contra a repressão imposta pelo regime militar (e alimentar).

O fato é que Roberto Carlos achou aquilo interessante, identificou-se com a mensagem e saiu da reunião com aquela frase na cabeça. Alguns dias depois, pegou o violão e começou a desenvolver o tema numa nova canção.

"Vivo condenado a fazer o que não quero / de tão bem comportado às vezes até me desespero...".. desabafa Roberto Carlos no início da música, na qual ele revela a angústia de viver numa espécie de camisa-de-força que o impede de fazer tudo o que realmente gosta.

A canção foi composta exatos dez anos depois de o cantor se tornar o maior fenômeno de popularidade da música brasileira. Eram dez anos envolvido numa malha de compromissos que mantinha Roberto Carlos sob a estreita vigilância de secretários, produtores e empresários, todos encarregados de impedir que ele desse sequer um passo em falso, e que tentaram até mesmo impedi-lo de se casar.


"Se faço alguma coisa sempre alguém vem me dizer/ que isso ou aquilo não se deve fazer/ restam os meus botões/ já não sei mais o que é certo...", questionava Roberto Carlos.

O duplo sentido da frase da última estrofe, "se como alguma coisa que não devo comer" - uma referência tanto ao alimento que engorda como ao sexo extraconjugal -, revela um artista cansado de sustentar aquela imagem de rapaz de bem, bom amigo, bom filho, bom pai e bom marido. "Procuro andar direito e ter os pés no chão/ mas certas coisas sempre me chamam atenção/ cá com meus botões/ bolas, eu não sou de ferro...", desabafa.

A canção indica que, por trás de toda aquela sobriedade revelada nas entrevistas e especiais de televisão, havia alguém sufocado e com vontade de mandar tudo novamente para o inferno. Dominado pela autocensura, por vezes ainda mais impiedosa que a dos órgãos oficiais, o cantor se revela um homem calado e desconfiado, temeroso de revelar suas opiniões publicamente, porque tudo de que gosta é ilegal, é imoral ou engorda.

O produtor Evandro Ribeiro gostou quando escutou os primeiros esboços da nova canção. Achou o tema forte, ideal para ser a faixa de abertura do álbum seguinte do cantor.

O problema é que Roberto Carlos chegou a Los Angeles para gravar seu novo disco sem ainda ter concluído a canção.

A solução foi telefonar para Erasmo Carlos, no Rio, e trabalhar com ele à distância. "Roberto estava com pressa para incluir a música no disco dele, então tivemos que concluir a composição pelo telefone", diz Erasmo.

Na época, as ligações internacionais eram ainda muito deficientes, e os dois mal conseguiam se ouvir. Roberto assobiava a melodia, Erasmo gravava, ouvia com mais calma, depois retornava a ligação. E assim eles trabalharam na canção até que ficou pronta a tempo de ser a faixa de
abertura do novo álbum. A partir daí.

aquela frase "tudo o que gosto é ilegal, imoral ou engorda" deixou de ficar restrita às salas e escritórios para ganhar a boca e os ouvidos de todo o povo brasileiro.

7 de outubro de 2007

Lou-co, lou-co, louco por você..


Excluído dos relançamentos, primeiro disco de Roberto Carlos chega a R$ 3 mil.

Mesmo com a série de reedições da obra de Roberto Carlos em CD, ainda não é possível encontrar o primeiro disco gravado pelo cantor, "Louco por Você", de 61, nas lojas de discos.



Considerado por colecionadores como um dos discos nacionais mais raros, e cercado de rumores de que o próprio Rei o teria "renegado", "Louco por Você" chega hoje a atingir o preço de R$ 3.000, mas apenas em lojas especializadas. O preço é até modesto, perto de raridades estrangeiras, como gravações de de Elvis, que podem chegar a US 10 mil (cerca de R$ 28 mil), mesmo assim, coloca "Louco por Você" como um dos discos brasileiros mais caros, ao lado da edição original em vinil de "Coisas", de Moacir Santos, relançado recentemente em CD.

Não há explicações oficiais para o não relançamento até hoje desse disco, que, produzido pelo "rei da pilantragem" Carlos Imperial, mostra uma fase pouco conhecida de Roberto Carlos, pré-jovem guarda, em que o cantor se dedicou a um repertório de boleros, tcha-tcha-tchas, baladas e até bossa nova, ainda completamente à parte do iê-iê-iê que o consagraria anos mais tarde.

Entre colecionadores, circula a versão de que "Louco por Você" não teria sido relançado por uma interdição do próprio cantor. "O disco não foi relançado porque Roberto não gosta dele", explica Marcelo Giacomo, dono da loja "Discomania", um dos sebos de discos mais conhecidos de São Paulo. Em entrevista recente, no entanto, Roberto Carlos chegou a admitir a possibilidade de que o disco seja reeditado: "Agora que estamos relançando meus discos, podemos ver", declarou o cantor em coletiva que marcou o lançamento da primeira das cinco caixas de discos comemorativas de seus 45 anos de carreira.

A gravadora Sony, por sua vez, detentora dos direitos sobre o disco (que foi lançado à época pela Columbia), afirma, por meio de sua assessoria, que não há planos para o relançamento. Outra "lenda" que cerca o disco, dá conta de que o cantor não queria que ele fosse relançado por causa de um desentendimento que teve com Carlos Imperial, produtor do disco e "padrinho" do cantor em seu início de carreira.

E segundo o próprio Roberto, na mesma entrevista, a fase registrada nesse primeiro disco, teria fechado portas em sua carreira, pois ele passou a ser considerado por muitos um mero "imitador" de João Gilberto.

A capa do LP, aliás, é a única em toda a discografia de RC que não traz uma foto sua. A imagem --de um casal segurando uma flor-- teria sido "roubada" de um disco do tecladista americano Ken Griffin. Por todos esses motivos, "Louco por Você" virou uma relíquia e tem o preço nas alturas, entre R$ 1.000 e R$ 3.000 (dependendo do estado de conservação).



Enquanto a polêmica não se resolve, RC Internacional traz  as 12 faixas de "Louco por Você", resenhadas para você conhecer um pouco da história do primeiro LP da carreira de Roberto Carlos:

1. "Não é por Mim" (Carlos Imperial/Fernando César)
Os versos finais deste bolerão de Carlos Imperial, que abre o disco, são apontados como provável causa para a interdição de Roberto à reedição de "Louco por Você". Os versos "e se (alguém) provar que eu fiz você ficar tão triste/eu saberei que existe um céu, que Deus existe", seriam contrários à crença religiosa atual do cantor, que não admite o questinamento da existência de Deus. [O livro "Roberto Carlos em Detalhes" afirma que o cantor não gosta dessa música porque teria desafinado no último verso (1º/12/2006)]

2. "Olhando Estrelas" (Antony)
Versão da balada "Look for a Star", sucesso entre adolescentes, nos primórdios do rock, na voz do cantor Garry Miles. Bela gravação do Rei (ainda sem o título de nobreza). Jovem, sua voz vai ideal aos jovens da época. Já se mostrava Roberto um tímido, filho preferido das mamães e até um tom domesticado na voz. Nosssaaaa.... Como eu procuro compreender o Rei, mesmo quando ele proibibe um otimo trabalho de tese de doutorado como é a biografia sobre ele.

3. "Só Você" (Renato Côrte Real/Edson Ribeiro)
Embalada por um ótimo arranjo rockabilly, a letra ingênua e espirituosa desta canção termina dizendo: "Enquanto eu já vou guardando capital, você vai adiantando o enxoval". "Só Você" e a canção seguinte, "Mr. Sandman", apontam a direção que o repertório de Roberto tomaria em discos seguintes, de "Splish Splash" até "Jovem Guarda".

4. "Mr. Sandman" (Ballard/Carlos Alberto)
Versão em português de uma balada de sucesso dos anos 50, gravada pelo grupo vocal Four Aces e pelo cantor norte-americano Marvin Gaye, entre outros. Adoro essa versão cantada de modo intimidado, mas ao mesmo tempo pessoal.

5. "Ser Bem" (Carlos Imperial)
Esta é talvez a música mais surpreendente do disco, em que Roberto interpreta num tom blazê e irônico, uma letra deliciosamente fútil, recheada de expressões de época, como "ser bem", "elegante da bangu", "estar 'in love'", e nomes de locais da moda, como o Sacha's e o Copacabana Palace. A música revela um lado debochado do Rei que foi pouco explorado em sua carreira.

6. "Chore por Mim" (Cry me a River) (Hamilton)
"Cry me a River" foi celebrizada pela interpretação sussurrada de Julie London, na trilha sonora do filme "The Girl Can't Help it", de 56. O arranjo da música, em sua gravação com London, era adorado por músicos bossa novistas, que o consideravam exemplar. A canção aparece em "Louco por Você" provavelmente como uma referência à bossa nova, de que Roberto era fã confesso. Em sua interpretação, no entanto, o cantor parece inseguro em algumas passagens da melodia. Justin Timberlake fez uma belka cvanção com esse título: "Chore um Rio" (tradução adequada) - fato esse comentado nesse BLOG.

7. "Louco por Você" (Careful) (Vance/Pockriss)
Um divertido tcha-tcha-tcha, versão de um sucesso de época. O destaque ganho como faixa título se justifica pelo refrão: "Lou-co, lou-co, louco por você...", delicioso e de fácil memorização. Nooossssaaaa.... Must... Muito bom de fato. Ele se esboça o que seria: um Rei. Canta docemente e de modo solto e livre. Mulherengo feito ele só - mas sempre discretamente.

8. "Linda" (Carlos Imperial/Bill Caesar)
Este tcha-tcha-tcha traz os backing-vocals mais divertidos do disco: "iá-iá-iá-iá... iá-iá..."

9. "Chorei" (Carlos Imperial)
Um samba balançado, que poderia estar no repertório de Miltinho ou Elza Soares, com arranjo para orquestra de gafieira. A canção é surpreendente não apenas pelo inusitado do estilo, que nunca mais voltou ao repertório do cantor, mas pela interpretação convincente de Roberto Carlos.

10. "Se Você Gostou" (Carlos Imperial/Fernando César)
Mais uma bossa de Carlos Imperial. A letra traz evocações explícitas à bossa nova em passagens como "olha o céu, o mar, a flor, isto é sinal de amor", ou "se lhe agradou minha voz cansada e rouca" e "se quiser de novo os carinhos que eu lhe fiz/amor, telefone e peça bis". Por letras como esta, Imperial foi considerado na época, pelos puristas, um aproveitador do sucesso da bossa nova "verdadeira", feita por Jobim e Vinícius. Atenção para o final da música, em que Roberto arrisca um "scat singing".

11. "Solo per Te" (Renato Côrte Real/Minco)
Bolerão italianado, esta música não faz supor que seu intérprete seria vencedor do festival de San Remo, anos mais tarde, com "Canzone per Te". Não é uma boa gravação, mas nem tudo é perfeito né?

12. "Eternamente" (De Angelis/Marcucci)
"Louco por Você" termina com esta balada, ao estilo Paul Anka, que foi sucesso em italiano na voz de Peppino diCapri. A letra em português explica: "Forever é para sempre/viver junto a você/as questões de amor/não têm tradução", e Roberto Carlos é enfático na dicção: "qüestões".
Nossssaaa... eu adoro essa canção e adoro escuta-la.

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