Ele estreou no Canecão num show em que sua voz dominou todo o espetáculo
Quando Roberto Carlos apareceu no palco do Canecão, calça de veludo vermelho e túnica franjada de camurça escura, estava começando o show mais esperado das noites cariocas dos últimos anos.
Mas quando ele se curvou para agradecer as palmas (muitas) depois do número final, continuou a mesma ansiedade de antes da primeira música.
Era quase unânime a opinião de que esse mito da música popular brasileira está em nível superior ao esquema armado para sua primeira aparição ao vivo.
- Eu não dou mais importância para o exterior de nada.
Nessa sua apresentação diária (45 dias) na gigantesca cervejaria do Rio, ele está muito longe do arauto da jovem guarda que foi um dia. Nada dos muitos colares de antigamente e de roupas muito escandalosas. Mas a fama e a fortuna não conseguiram mudar o seu modo muito próprio de encarar a vida e os homens. Seu olhar de anti-herói também continua o mesmo.
Mas aquele não é mais o mesmo menino pobre de Cachoeiro do Itapemirim, o filho de um relojoeiro e de uma costureira que um dia voltou à sua terra, já famoso, e cantou para quase toda a população da cidade, na praça principal. Ali no Canecão a platéia era outra. E de repente, ele se lembrou dos velhos tempos em que ia, de bicicleta, fazer serenatas num bairro chamado Coronel Borges - em Cachoeiro - onde morava uma de suas musas da época.
Um dia sua serenata foi interrompida por um som meio dissonante: era o jipe da polícia. Mas sua bicicleta foi mais rápida e o jeito foi terminar a serenata em outro lugar, para outra musa. Dessa vez, o que havia era um bando de cachorros, que interferiram ruidosamente.
O cenário em que Roberto Carlos canta agora todas as noites para mais de três mil pessoas lembra uma das constantes de sua vida de jovem supersônico. Separando-o da orquestra, há um carro de corridas, seu grande tema desde Calhambeque até Duzentos Quilômetros Por Hora (que é o título do show).
Ele acha que essa verdadeira fixação em carros é porque houve os tempos em que não podia comprar um. Mas mesmo nisso houve a mudança: ele se interessa muito mais pelos motores do que pelas carrocerias.
Dele, o diretor Roberto Farias fala assim:
- O dia em que pudermos usar o Roberto Carlos dos discos no cinema, teremos a interpretação ideal. No próximo filme vamos tentar isso, mas todas as nossas experiências são muito medidas, muito calculadas.
Nós somos iguais em várias coisas. A minha tarefa como diretor foi descobrir nele o ator que cada um tem em si (a vida já é um palco). Em cinco minutos já se sabe o que esperar de um ator, e um ator trabalhando um ano em cinema já não tem mais o que aprender. Mas Roberto Carlos é um artista total.
Mas Roberto Farias o dirigiu em dois filmes e não no seu atual show.
As músicas João e Maria e Fora do Tom formavam o primeiro disco, um compacto. Era iê-iê, o ritmo que tomava conta de toda a música jovem. O disco não fez sucesso, mas ele não desistiu. Depois vieram mais seis discos, mas foi com Splish Splash que o seu nome começou a ser notado. Mas o grande estouro foi com Calhambeque. Veio Quero que tudo mais vá pro inferno e já era a glória. Roberto Carlos era o rei.
- Meu pai queria que eu fosse médico, mas eu queria ser aviador, porque achava muito bacana. Mas depois quis ser desenhista. Foi de repente que a música entrou em minha vida e nunca mais saiu.
O começo fora difícil, mas ele tinha persistência e tinha muita convicção nas coisas que fazia. Um dos segredos era que ele jamais se considerava realizado e estava sempre pensando no que viria depois. Isso acontece até agora, no cinema, por exemplo.
O primeiro foi muito bom, o segundo melhor ainda. Agora ele quer fazer um filme completamente diferente dos dois primeiros. Nos outros ele era Roberto Carlos. Nesse, ele quer ser um personagem.
- Também na música eu procuro novos caminhos e acho que agora é importante conquistar o exterior. Já sou um pouco conhecido na América Latina e na Itália. Mas quero viajar com a minha música.
Por enquanto, ele mostra aos cariocas que realmente é rei. E isso, na noite da estréia, muita gente viu (apesar de algumas falhas): de Simonal a Fernanda Montenegro, de Ibrahim Sued a Oto Lara Rezende. Todos viram (e ouviram) um líder da música do seu tempo. Um ídolo que já tem lá suas certezas:
- Eu não dou mais importância para o exterior de nada!
Quando Roberto Carlos apareceu no palco do Canecão, calça de veludo vermelho e túnica franjada de camurça escura, estava começando o show mais esperado das noites cariocas dos últimos anos.
Mas quando ele se curvou para agradecer as palmas (muitas) depois do número final, continuou a mesma ansiedade de antes da primeira música.
Era quase unânime a opinião de que esse mito da música popular brasileira está em nível superior ao esquema armado para sua primeira aparição ao vivo.
- Eu não dou mais importância para o exterior de nada.
Nessa sua apresentação diária (45 dias) na gigantesca cervejaria do Rio, ele está muito longe do arauto da jovem guarda que foi um dia. Nada dos muitos colares de antigamente e de roupas muito escandalosas. Mas a fama e a fortuna não conseguiram mudar o seu modo muito próprio de encarar a vida e os homens. Seu olhar de anti-herói também continua o mesmo.
Mas aquele não é mais o mesmo menino pobre de Cachoeiro do Itapemirim, o filho de um relojoeiro e de uma costureira que um dia voltou à sua terra, já famoso, e cantou para quase toda a população da cidade, na praça principal. Ali no Canecão a platéia era outra. E de repente, ele se lembrou dos velhos tempos em que ia, de bicicleta, fazer serenatas num bairro chamado Coronel Borges - em Cachoeiro - onde morava uma de suas musas da época.
Um dia sua serenata foi interrompida por um som meio dissonante: era o jipe da polícia. Mas sua bicicleta foi mais rápida e o jeito foi terminar a serenata em outro lugar, para outra musa. Dessa vez, o que havia era um bando de cachorros, que interferiram ruidosamente.
O cenário em que Roberto Carlos canta agora todas as noites para mais de três mil pessoas lembra uma das constantes de sua vida de jovem supersônico. Separando-o da orquestra, há um carro de corridas, seu grande tema desde Calhambeque até Duzentos Quilômetros Por Hora (que é o título do show).
Ele acha que essa verdadeira fixação em carros é porque houve os tempos em que não podia comprar um. Mas mesmo nisso houve a mudança: ele se interessa muito mais pelos motores do que pelas carrocerias.
Dele, o diretor Roberto Farias fala assim:
- O dia em que pudermos usar o Roberto Carlos dos discos no cinema, teremos a interpretação ideal. No próximo filme vamos tentar isso, mas todas as nossas experiências são muito medidas, muito calculadas.
Nós somos iguais em várias coisas. A minha tarefa como diretor foi descobrir nele o ator que cada um tem em si (a vida já é um palco). Em cinco minutos já se sabe o que esperar de um ator, e um ator trabalhando um ano em cinema já não tem mais o que aprender. Mas Roberto Carlos é um artista total.
Mas Roberto Farias o dirigiu em dois filmes e não no seu atual show.
As músicas João e Maria e Fora do Tom formavam o primeiro disco, um compacto. Era iê-iê, o ritmo que tomava conta de toda a música jovem. O disco não fez sucesso, mas ele não desistiu. Depois vieram mais seis discos, mas foi com Splish Splash que o seu nome começou a ser notado. Mas o grande estouro foi com Calhambeque. Veio Quero que tudo mais vá pro inferno e já era a glória. Roberto Carlos era o rei.
- Meu pai queria que eu fosse médico, mas eu queria ser aviador, porque achava muito bacana. Mas depois quis ser desenhista. Foi de repente que a música entrou em minha vida e nunca mais saiu.
O começo fora difícil, mas ele tinha persistência e tinha muita convicção nas coisas que fazia. Um dos segredos era que ele jamais se considerava realizado e estava sempre pensando no que viria depois. Isso acontece até agora, no cinema, por exemplo.
O primeiro foi muito bom, o segundo melhor ainda. Agora ele quer fazer um filme completamente diferente dos dois primeiros. Nos outros ele era Roberto Carlos. Nesse, ele quer ser um personagem.
- Também na música eu procuro novos caminhos e acho que agora é importante conquistar o exterior. Já sou um pouco conhecido na América Latina e na Itália. Mas quero viajar com a minha música.
Por enquanto, ele mostra aos cariocas que realmente é rei. E isso, na noite da estréia, muita gente viu (apesar de algumas falhas): de Simonal a Fernanda Montenegro, de Ibrahim Sued a Oto Lara Rezende. Todos viram (e ouviram) um líder da música do seu tempo. Um ídolo que já tem lá suas certezas:
- Eu não dou mais importância para o exterior de nada!
- Suas mensagens musicais continuam falando de amor, mas de uma forma muito diferente. Sua presença cênica é perfeita. Mas ele dá a impressão de não ter sido dirigido em cena: apenas sua intuição aparece. O recital poderia ter sido realmente o grande espetáculo do ano. E, de qualquer forma, é um grande espetáculo
- Para esse show ele firmou o maior contrato já feito com um cantor brasileiro.
- Ele é único, uma coisa. Ele é tão bom quanto Pelé. A frase é um pouco do que o público pensa de Roberto Carlos. Sua interpretação nunca foi tão segura como agora, justamente quando ele tem nova paixão: o cinema
Fonte: Revista Manchete - 1970
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