Amada, amante foi lançada em 1971, mas composta durante os anos em que
Roberto Carlos vivia um imbróglio para conseguir oficializar seu casamento. Num tempo marcado por guerras, guerrilhas e violência urbana,
Roberto Carlos não se conformava com o fato de não poder oficializar o amor que sentia por sua
mulher. E a letra de Amada amante fala exatamente disso:
"Esse amor sem preconceito/ sem saber o que é direito/ faz as suas próprias leis", diz Roberto Carlos, exaltando a subversão das leis que regem o matrimônio.
A canção incomodou e, num primeiro momento, foi proibida pela censura. "Esse é um troço que deixa a gente triste, sem entender. A gente imagina uma coisa, trabalha em cima, sua para concluir a música aí vêm os caras e metem a tesoura, censuram, proíbem, desrespeitam o seu trabalho. Não deveria existir censura nenhuma", protestou na época
Erasmo Carlos.
Em Amada amante, ele e Roberto foram mais ousados na abordagem do tema amoroso e pela primeira vez em sua obra usaram a palavra "amor" no sentido de sexo, no verso: "Que manteve acesa a chama/ que não se apagou na cama/ depois que o amor se fez". E foi exata-mente essa referência mais direta à relação sexual o que provocou a interdição da música.
O departamento jurídico da
CBS entrou com recurso no órgão de Censura Federal em Brasília e este condicionou a liberação de Amada amante à modificação do trecho que trazia a palavra "cama". Roberto e Erasmo criaram então um novo verso: "que manteve acesa a chama/ da verdade de quem ama/ antes e depois do amor" - que ficou até melhor do que o original. Um outro verso - "e você amada amante/ faz da vida um instante/ ser demais para nós dois" - era uma referência ao fato de
Roberto Carlos permanecer pouco tempo em casa para curtir seu amor, mas cabe também como uma luva para o homem casado que não pode ficar todo o tempo com a amante.
No início dos anos 40, a censura do governo de
Getúlio Vargas proibiu o uso da palavra "amante" na música popular. Qualquer samba ou marcha carnavalesca que usasse essa expressão era vetada. Na época, a imprensa era advertida até mesmo quando fazia referência a um "amante da arte".
Por força do hábito, mesmo depois do fim da ditadura Vargas os compositores continuaram evitando essa palavra.
Vinícius de Moraes esteve perto de usá-la em Minha namorada, parceria com Carlos Lyra. "E
se mais do que minha namorada/ você quer ser minha amada/ mas amada pra valer/ aquela amada pelo amor pre- destinada...". Ou seja, amada, mas não amante. Assim, essa palavra continuou de fora de nossa
música popular até o lançamento da canção de Roberto Carlos.
E, como se estivesse mesmo presa na garganta do povo brasileiro, ela ganhou as ruas no rastro do sucesso de Amada amante, em plena ditadura do governo
Medici. O próprio
Roberto Carlos ficou surpreso com a grande repercussão de sua música, tanto no Brasil como em toda a América Latina.
Amada, Amante
(Roberto Carlos / Erasmo Carlos)
Esse amor demais antigo
amor demais amigo
que de tanto amor viveu
que manteve acesa a chama
da verdade de quem ama
antes e depois do amor
e você amada amante
faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez
neste mundo desamante
só você amada amante
faz o mundo de nós dois
amada amante