Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1987
Ao contrário de seu fiel amigo e parceiro Roberto Carlos, Erasmo Carlos (Erasmo Esteves, RJ, 5/6/1941) - o "Tremendão" da Jovem Guarda dificilmente conhecerá a glória de vender um milhão de cópias. Seu público é reduzido, embora ele se mantenha no mercado, satisfatoriamente, há tanto tempo quanto o "Rei".
Enquanto o novo disco de Roberto Carlos (CBS, dezembro/86), já passou das 1.500.000 cópias vendidas, o elepê anual de Erasmo Carlos ("Abra Seus Olhos", Polydor/Polygram, novembro/86) ainda engatinha em vendas - mas teve boa acolhida.
Justiça seja feita: ao contrário de Roberto, Erasmo inova em seus discos. Sem fugir do romantismo, de uma linha muitas vezes irônica, busca sempre novos espaços - a começar pela própria capa de cada disco (ao contrário de Roberto, cujos discos se confundem pela mesmice interna e externa).
Na verdade, a produção deste "Abra Seus Olhos", 24º lp de Erasmo Carlos, envolveu dois extremos. De um lado, a experiência nova de Erasmo ir compondo as músicas enquanto entrava em estúdio; de outro, a retomada de ritmos há muito abandonados. Resultado: Erasmo define este disco como "uma verdadeira viagem rítmica com samba, funk e outros ritmos que não visitava há algum tempo". São 12 faixas - sete em dupla com Roberto Carlos - e cinco de amigos como Paulinho Soledade, Luis Sérgio Carlini, Ed Wilson, Ronaldo Bastos, João Augusto, Nico Rezende e Ronaldo Santos.
Há um clima de descontração no disco - ao contrário do trágico "Buraco Negro", feito há 2 anos, quando Erasmo vivia um drama conjugal, a tentativa de suicídio de sua ex-esposa, Narinha, e até acusações de seu envolvimento amoroso com o travesti Roberta Close (a quem dedicou uma música).
Erasmo é bom no humor, sabendo aproveitar temas simples - como faz em "O Resto é Blá, Blá, Blá" - parceria com Roberto - ou "Rádio Patroa", um rock de Luiz Carlini. O grupo Roupa Nova valoriza "Na Próxima Atração", balada de Ed Wilson/Ronaldo Bastos. "Tantas Noites", música que seria para comemorar seus 15 anos de casamento (2 de julho) com Narinha. Junto com Roberto fez um "radical bolero" que se chamava originalmente "Dois de Julho". Mas como seria muita bandeira, mudou o nome e o arranjo de Jorjão Barreto transportou-o para o soul romântico.
Leila Pinheiro, a afinada cantora paraense, tem uma participação especial no "Samba Rock", uma música de Billy Moore, Simpson e Johnny Brandford que, em 1975, fez sucesso nas vozes de "Os Cariocas". Inspirado nos Cariocas, Erasmo fez a sua versão, promovendo na harmonia o casamento da guitarra com o violão. A guitarra, no caso, é de Marcelo Sussekind e o violão é de Roberto Menescal. Além de Menescal e Sussekind, e Leila Pinheiro, um outro convidado especial: o trombonista Raulzinho.
Dentro das participações especiais, mais uma presença: Eduardo Dusek, fazendo vocalises em "Análise Descontraída", música que Erasmo e Roberto fizeram em 1975. Só que para esta regravação, Erasmo fez mais uma estrofe e a transformou de rock original num tremendo funk. E a letra ganhou, assim, um apelo-denúncia-ecológico e político ao final:
"Morro sem entender porque Chernobyl
Não serve de exemplo às "Angras" do Brasil
E porque que debaixo do mesmo céu azul
Não convivem em paz
Brancos e negros na África do Sul"
Leila Pinheiro, a afinada cantora paraense, tem uma participação especial no "Samba Rock", uma música de Billy Moore, Simpson e Johnny Brandford que, em 1975, fez sucesso nas vozes de "Os Cariocas". Inspirado nos Cariocas, Erasmo fez a sua versão, promovendo na harmonia o casamento da guitarra com o violão. A guitarra, no caso, é de Marcelo Sussekind e o violão é de Roberto Menescal. Além de Menescal e Sussekind, e Leila Pinheiro, um outro convidado especial: o trombonista Raulzinho.
Dentro das participações especiais, mais uma presença: Eduardo Dusek, fazendo vocalises em "Análise Descontraída", música que Erasmo e Roberto fizeram em 1975. Só que para esta regravação, Erasmo fez mais uma estrofe e a transformou de rock original num tremendo funk. E a letra ganhou, assim, um apelo-denúncia-ecológico e político ao final:
"Morro sem entender porque Chernobyl
Não serve de exemplo às "Angras" do Brasil
E porque que debaixo do mesmo céu azul
Não convivem em paz
Brancos e negros na África do Sul"
Esse artigo não deveria ser publicado. O Erasmo é muito amigo e parceiro musical do Roberto Carlos, e o Roberto sempre vendeu mais discos que qualquer outro cantor brasileiro e, não deveriam fazer esse tipo de comparação. O Erasmo Carlos tem qualidade e é tão bom compositor quanto o Roberto Carlos.
ResponderExcluirNelson Rocha.