Antes de se tornar ídolo da Jovem Guarda, o Rei gravou este disco, em 1961, considerado uma raridade, produzido por Carlos Imperial. Espero que vc goste!
(COLUMBIA 37171, lançado em agosto de 1961)
1. “Não é por Mim”
De autoria da dupla Carlos Imperial/Fernando César, “Não é por Mim” é um bolero com um vocal impecável e assombroso. O arranjo, contudo, não poderia ser mais clichê: congas, maracas, bongôs, contrabaixo, orquestra de cordas e piano. Roberto foge ao estilo abaritonado e cheio de vibratos, típico de figurões do gênero, como Altemar Dutra. Ao contrário, aqui ele canta com voz concisa, escorreita e clara. Chama a atenção principalmente por ser um bolero de fachada: a melodia é cheia de “bossanovices” e a interpretação tem nítida influência do João Gilberto de ”Hô-ba-lá-lá”.
2. “Olhando Estrelas”
Na verdade, é “Looking for a Star” em arranjo de beguine (estilo que caiu de moda há muito tempo), e que é bastante conhecida em versão instrumental. Roberto prenuncia já o eterno romântico: “Duas noites são teus lindos olhos/Onde estrelas estão a brilhar/Que ternura o olhar mil estrelas/Em teu olhar”.
3. “Só Você”
Música de Renato Corte Real, “Só Você” é um fox-trote (também caiu de moda) de letra romântica porém simplória (“Por você/Eu aprendo inglês/Que pra mim é um suplício chinês”). Para piorar, termina com “Enquanto eu já vou guardando capital/Você vai adiantando o enxoval” com um coro masculino e feminino e uma citação da Marcha Nupcial de Wagner na coda. Curiosidade: é a mesma “citação” que aparece em “Quero me Casar Contigo”, do álbum Splish Splash, de 1964.
4. “Mr. Sandman”
O mesmo coro da faixa anterior assombra “Mr. Sandman”, outro sucesso dos anos 50, que virou standard de jazz e fez sucesso nos anos 50 com as Chordettes. É outro fox-trote, mas o que mais se destaca é o arranjo — guitarra, palmas e vassourinha intercalados com frases de saxofone — que se transforma num be-bop híbrido de dar água na boca dos fãs de Stan Kenton, com um diálogo improvisado de guitarra e sax. “Mr. Sandman” se tornaria uma espécie de interlocutor de Roberto, que se refere a ele em “Louco Não Estou”, um sucesso da Jovem Guarda.
5. “Ser Bem”
Letra e música de Carlos Imperial, é Bossa Nova transformada em puro clichê, genial, pretensiosa e bemolizada. A letra é cheia de gíria, de referências a modismos do Rio dos anos 50, como o Copacabana Palace, o Sacha’s e “Baby” Bocaiúva Cunha — um dos socialites que serviam de mecenas à turminha do amor, do sorriso e da flor. É de um deboche que não pouco tem a ver com o Roberto Carlos que todos conhecem. Em alguns momentos, o Rei faz evoluções que evocam o Johnny Alf de “Rapaz de Bem”: “Ser bem/ É no Copa debutar/É andar de Cadillac/E de ver que se está in love /Mesmo que seja de araque". Ou “Toda garotinha tem mania/De ser elegante, dar Bangu quer ver o seu nome na coluna todo dia pertinho do Jorginho, ao lado do Didu/É na Hípica jantar/É no jóquei desfilar/E de noite no Sacha’s com “Baby” juntinho dançar/ Mamãe, eu também quero ser bem”.
6. “Chore por Mim”
Na verdade, “Chore por Mim” não é nada mais, nada menos do que “Cry Me a River”, que fazia sucesso na voz de Julie London, cujo arranjo original, com Barney Kessel na guitarra, fez muita gente abandonar o acordeom e tocar violão. Muito longe da Jovem Guarda, Roberto parecia mais a trilha sonora de garconniére, no melhor estilo “A Vida Como Ela É”, taciturna, blasé, sensual, à media luz, com direito a bongô e pizzicatos e síncopes de cordas e um solo de violino daqueles de fremir decotes femininos. Roberto dá o clima, cantando com voz vacilante, tímida.
7. “Louco por Você”
Essa é de arrastar o sofá, pegar maracas, chamar todo mundo para fazer trenzinho pela sala. Versão de “Careful”, é um chá-chá-chá pra ninguém botar defeito, e que dá nome ao disco. O que impressiona é que Roberto Carlos entra no clima: de tão convincente, você pode ouvi-lo, junto com o coro tenebroso (“lhá,lhá,lhá,lhá”) e fazendo o refrão, em tom de súplica: ”louco...lou...co, louco por você!”. Difícil é acreditar que é Roberto fazendo “uh” e “yeahs”.
8. “Linda”
Mais um chá-chá-chá, com sax, palmas e o famoso corinho. Outro sucesso internacional, com versão de Carlos Imperial. A diferença é que “Linda” tem um tempo e letra que lembra mais o Roberto Carlos da Jovem Guarda e instrumentalmente mais bem arranjada do que a maioria das canções que ele faria depois do sucesso de “Splish Splash”.
9. “Chorei”
De Carlos Imperial, Roberto ataca dessa vez com um samba. Letra e música inspiradíssimas, porém para um Roberto também muito distante da Jovem Guarda, mas com muito estilo. “Chorei/Quando vi chegar ao fim/O amor que havia em mim/A ternura que guardei”. O suíngue lembra Miltinho, a interpretação, Lúcio Alves, de longe. Mas, antes de mais, nada, é Roberto Carlos, eclético e convincente, como sempre. Uma das melhores do disco.
10. “Se Você Gostou”
Se você gostou de “Ser Bem”, não vai gostar muito de “Se Você Gostou”, da dupla Carlos Imperial e Fernando César. Se a primeira brincava com clichês típicos da Bossa Nova, esta vale mais pela interpretação do que pela letra: “Se quiser de novo os carinhos que eu lhe fiz/Amor, telefone e peça bis", ou “Olha o céu, o mar, a flor, isto é sinal de amor”. A letra também lembra mais o tipo de Bossa que virou moeda comum na voz de Wilson Simonal (até lembra Simonal ou Leny Andrade com o scat no final).
11. “Solo Per Te”
Muito antes dos puristas inventarem o rótulo de “World Music” para classificar o inclassificável ou rotular o que não tem rótulo, Roberto Carlos já dava a volta ao mundo com “Solo Per Te”. Um bolero misturado com calipso — versão de Renato Corte Real de uma canção italiana homônima — onde a letra é cantada em macarronês (“carissíssima, dolcecíssima!”) e em português. Roberto, sempre acusado de pouco inspirado e de cafona por seus detratores, aqui imprime certa elegância em sua interpretação, daquelas de dançar de rosto colado.
12. “Eternamente”
“Forever é para sempre/Viver junto a você/As questões de amor/Não têm tradução”. A derradeira faixa de Louco por Você é outra versão brasileira de um sucesso internacional, desta vez, de Peppino di Capri. Letra e música são beleza pura. O arranjo, por sinal, evoca os antigos números de música italiana que concorriam nas paradas dos anos 60 com Roberto, como Nico Fidenco ou Giani Morandi.
29 de maio de 2007
Roberto Carlos - Louco por você (1961)
às 14:24
Marcadores: RC Especial....
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não tem link pra baixar????????
ResponderExcluirO_O
É uma satisfação! Gostaria de saber se estea gravação foi tirada de outros post, ou você mesmo passou de vinil para CD, pois a qualidade da música SER BEM, em outros downloads de outros blogs está horrivel!
ResponderExcluirVale uma outra sugestão: Procurei a orquestra brasileira de espetáculos, que lançou discos de 1967 até 1978 e nunca encontrei.
meu email real é: jocdr@hotmail.com
Bem, se for só de caráter informativo tudo bem, agora se há a ótima intenção de que as pessoas possam baixar esta pérola, CADÊ O LINK?????
ResponderExcluirse eu tivesse o disco (que custa 3mil reais) eu NAO disponibilizaria tambem!
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