21 de abril de 2009

Roberto Carlos para Cachoeiro...

Errou um ou dois versos, lambuzou-se de bolo, leu no teleprompter as letras que esquecia a todo momento (como de hábito), mas cantou lindamente.

Às 20h50 do último domingo, quando Roberto Carlos soltou a voz na noite estrelada de Cachoeiro de Itapemirim, até os carros dos funkeiros locais que circulam com sistemas de som envenenados pela cidade se calaram. "Eu voltei para as coisas que eu deixei", dizem os versos de O Portão, clássico de 1974 que fala do retorno do filho à casa materna após um grande período de ausência, com o qual ele abriu a noite.

O show em Cachoeiro foi único, mas não irrepetível. Cada vez que voltar a sua cidade provavelmente vai ser assim, essa espécie de ritual sanguíneo, a princípio inapreensível para forasteiros. Misto de ídolo, velho amigo e referência ética para seu público, Roberto diz que o segredo do ‘caso sério de amor'' que tem com seus seguidores é que se confunde com eles. "Gosto da mesma coisa de que o povo gosta", diz. Mas é mais do que isso.


Em sua figura, fundem-se Beatles e João Gilberto, o sacristão e o conquistador, o amante dos carangos envenenados e o inimigo dos hábitos perigosos. É o santo e o herege, o revolucionário e o conservador.

A malícia meio antiquada encoraja os muitos tímidos e revela de forma simples sentimentos secretos. "Não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada", diz o verso, e o velho playboy malandro de cabelo acaju abaixa a cabeça e ri quase sem jeito na plateia.

As músicas que entraram num repertório espartano por obra e graça da visita do Rei, como Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo, de 1979, feita para o pai, o relojoeiro Robertino, pareciam encaixar como uma luva no corolário de mensagens afetivas do artista.

O público ensaiava um coral gigantesco. Garotas de 13 anos cantavam com mães e avós em É Proibido Fumar e Namoradinha de um Amigo Meu. E como escapar à sequência de músicas de apelo erótico: Proposta, Cavalgada?... "Estrelas mudavam de lugar, chegavam mais perto só para ver".


Roberto nem de longe parecia aquela figura monolítica, cheia de manias. Cortou o cabelo, tirou os ternos de ombreiras, escolheu uma cor cinza azulada sóbria para o paletó, estava sorrindo mais e improvisando ainda mais.

Deu bolo para os músicos, para os filhos no palco. "Eu queria que sempre tivesse bolo", disse, depois de oferecer um pedaço do gigantesco doce de aniversário para uma moça anônima da plateia. Pela primeira vez em dez anos não ofereceu o show à mulher Maria Rita, morta em 1999. "Este show eu ofereço a cada habitante dessa cidade", disse.

Tudo é igual, mas tudo mudou. Pela primeira vez em décadas, Roberto disse a palavra ‘mal'' em É Preciso Saber Viver. Ele tinha banido, por superstição, o vocábulo de seu dicionário musical. Fez um show alto astral - alguns atribuíam o espírito jovial à nova namorada, que renovou o guarda-roupas e o espírito do Rei.

Roberto Carlos atravessou com extrema dignidade e uma voz incomensurável todo o lote de canções. Fechou a noite com fogos de artifício e rosas no reencontro com sua gente.

Um comentário:

  1. Que lindo!!!!Que lindo!!!Que lindo!!!.........Não consigo escrever mais nada,uma gota escorre no meu rosto,é sempre a mesma emoção..............
    Adelina Trindade(Portugal)

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